terça-feira, 2 de novembro de 2010

Pedro, um caso quase real.

      Um rapaz, jovem, 23 anos, programador de uma respeitável empresa multinacional desenvolvedora de software, era muito responsável, trabalha e guardava quase todo o seu dinheiro, sua vida se resumia a empresa, ou na frente de seu computador, trabalhando em um software que lhe daria completa independência, e estabilidade e isso o fazia perder muitas noites de sono.
     Mais seu sonho extrapolou a barreira do sono, e começou a virar fixação, Pedro já não se alimentava direito, não saia à noite desde o ginásio, quando ganhou seu primeiro computador, os amigos de trabalho diziam, - viva Pedro, liberte-se da auto-escravatura, e nada, Pedro já tinha fechado seus olhos para o mundo e tudo o que via era os códigos do software de programação.
     Pedro pensava que seu futuro poderia ser muito melhor, seria mais proveitoso, e ele teria sua própria empresa de software, é levar a serio esse sonho é o mínimo que ele poderia fazer, mesmo que isso significasse perder os melhores momentos da vida, ou quando diziam seus amigos, Pedro estava perdendo a vida como um todo, pois estava soterrado em um mundo paralelo, um mundo sem nada feliz, só números, códigos sem espaço para tudo o que um jovem precisa para ser feliz.
     O tempo passou, Pedro já tinha 28 anos, e sua vida ainda não tinha dado a guinada que ele imaginava, continuava no marasmo de fazer todos os dias a mesma coisa: trabalhar. Já não tinha mais amigos, até sua família havia se afastado, pois nada era suficiente, sempre o programa tinha alguma falha que fazia necessário mais uma noite de sono, mais um dia, mais um domingo inteiro trancado.
     E a vida de Pedro foi passando devagar e monótona, ate que um dia o programa estava pronto, Pedro esperava ansioso por isso, era sua hora, a hora de mostrar pra todo mundo que nada foi as toa, nada foi por acaso, todas as noites, feriados e finais de semana perdidos haveriam de ser recompensados por uma nova vida de descanso e conforto.
     Mais por um infortúnio do destino na semana da apresentação do seu programa, uma frase dita por sua mãe, o fez pensar, uma frase simples, frase esta que como nenhuma outra dita por ninguém soou forte nos ouvidos de Pedro, olhando para ele ela disse: -Filho espero sinceramente que isso dê certo, porque esses anos que você perdeu trancafiado não voltarão jamais; Ouvindo isso, Pedro disse: e se eu estiver errado, e se todos os conselhos que eu deixei pra trás estiverem certos, e se joguei grande parte da minha vida pra fora por nada, milhares de pensamentos povoavam a mente de Pedro, e ele já ate ouvia os comentários de que todos avisaram e ele não havia escutado, mais nada abalava verdadeiramente sua força de vontade, suas convicções eram firmes, e ele estava mais certo do que nunca que sua hora estava próxima.
     Havia chegado o dia, hoje às 15 horas, seu programa revolucionário ia ser lançado, e com ele todo o peso de uma vida, todos os comentários cessariam Pedro renasceria para o mundo agora como um homem livre, 14:00 é hora de ir, Pedro pega seu notebook e sai para a empresa onde seria a apresentação, e quando chega próximo ao local pensa como será sua vida, como será mais proveitosa, neste exato momento, escuta um barulho, típico de tumultos, gritos, tiros e de repente esta no chão, sentiu o gosto do sangue em sua boca, sentiu seus pulmões ficarem sem ar, seu coração estava acelerado como nunca, depois não sentiu mais nada, uma leve sensação de paz em meio ao caos, um clarão lhe cegou os olhos, e pronto, ele estava morto, era um corpo estendido na calçada, quem passava não entendia, um rapaz tão novo, diziam.
    Pedro, 28 anos, agora era um cadáver, e nada mais havia, não havia mais sonhos, não havia mais convicções, só restava um misero corpo sem vida, o que sobrou de Pedro,
    Todos em seu velório observavam como a vida era injusta, e diziam também que se ele soubesse que morreria tão jovem tinha aproveitado com mais fervor a vida que pode ser tão rápida, alguns pensaram ate que ele pode ter sido feliz, mesmo sem ter aproveitado tudo que a vida poderia ter lhe oferecido, talvez aquilo era o que ele chamava de felicidade. Sua mãe chegou a conclusão que a vida era injusta, deus, se existisse, era deveras impiedoso, mas agora era tarde, agora nada mais importa, não cabia mais conclusões, Pedro já estava morto.

Texto escrito em 21/09/2006.

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